julho 02, 2011

O ANDARILHO

      Sua respiração era quase nula de tão concentrado. Colocou-se parado sobre uma árvore imóvel, como uma rocha, em uma camuflagem perfeita, com um corselete de couro batido tingido de verde mosqueado. Sua face era séria, austera.  Em outro lugar, poderia ser chamado de nobre, mas não ali, não com aquelas roupas, nem com o que estava fazendo. Era um caçador, sim, e com sua presa a frente, mas não havia maldade em seus olhos castanhos, apenas precisão.        
      Puxou a corda de seu arco tão lentamente, que seus músculos se intensificaram com a força aplicada. Porém, nem um mínimo ruído foi ouvido. Sua presa estava ali, logo na sua frente, indefesa, impotente, nem ao menos iria saber o que havia acontecido. Aquilo despertava certa sensação de poder, ainda que não gostasse de matar criaturas indefesas: Pensava ele - “Sinto muito, mais estou faminto”. A criatura sentiu que estava sendo observada, ergueu a cabeça para ver se de fato tinha algo que poderia ameaçar sua existência por perto. Não viu nada e, então, confiou em seus olhos. Seu primeiro e último erro. A flecha foi disparada, o abate concluído, o alimento conquistado.
      A satisfação de uma caçada era uma coisa inegavelmente boa. Ele já não se lembrava a última vez em que conseguira tempo e silêncio para tal distração. Afinal de contas, os últimos dias haviam sido movimentados. Uma pequena tropa de orcs havia se alocado em um ponto de sua floresta. Observava da copa das árvores, não tentou impedir os orcs quando esses caçaram alguns animais. “Todos merecem a chance de obter seu próprio alimento”. Ainda sim, sabia que aquelas criaturas não iriam se satisfazer com alguns veados e lebres.
      Observou durante dias, e o que mais o surpreendeu foi que aquelas criaturas, que, até então, apenas conheciam o caos, demonstravam uma tremenda e rígida conduta, inclusive utilizavam de patentes e hierarquia para procedimentos a serem tomados em relação à guarnição, grupo de caça e coisas que apenas um grupo bem estruturado e preparado faz. Achou estranho tudo aquilo, mas preferiu não tomar partido, afinal, mesmo que quisesse sozinho não poderia fazer nada, e pelo que conseguiu ver aqueles orcs não seriam facilmente intimidados por superstições. Decidiu que só tomaria alguma atitude se de alguma maneira prejudicasse sem motivos à floresta e aqueles que nela tinham como lar.

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